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segunda-feira, 4 de julho de 2011

A New Year Blues

Nota da autora: Essa é um pequeno conto que eu fiz e gostei muito. Gostaria muito de fazer uma história maior com o Marcus... Decidi publicar aqui para ver a opinião de vocês...

Sejam honestos com a opinião!




O bar estava sujo, pobre e vazio e uma música, cuja letra era incompreensível, preenchia o ambiente saindo das caixas de uma jukebox localizada no canto próxima a janela. O aquecedor não devia ser limpo ou cuidado por alguns meses, senão anos, pois o local estava frio – o que já era bom em comparação com o estado congelante do lado de fora. Nele se encontravam apenas alguns homens já bêbados demais para perceberem ou analisarem onde estavam, algumas prostitutas entediadas com seus parceiros, porém ansiosas pelo pagamento de mais tarde, um jovem barman ajeitando as garrafas de bebidas nas prateleiras do bar, e Marcus, que sentado ao balcão, encarava de maneira dolorosamente sóbria o pequeno copo de whiskey a sua frente.
A música chegou ao fim e passados alguns segundos as notas intensas e melancólicas de um blues começou a encher o ambiente, acompanhada da voz e interpretação de B. B. King.

I pity the fool that falls in love you


Marcus suspirou e ao som das batidas repetitivas e do choro da guitarra. Tomou o copo com o liquido âmbar em suas mãos e virou seu conteúdo de uma vez só. O líquido quente e amargo desceu a garganta queimando tudo o que estava em sua frente e como reação a isso, fechou os olhos e abriu a boca, soltando o ar que havia inspirado com o álcool. Ao se sentir melhor, simplesmente se deixou curtir a sensação de leve embriaguez que dominou o seu corpo por alguns momentos.

“Mais uma.”

Gritou para o barman, que lhe pegou o copo e encheu da bebida anterior, a qual bebeu de imediato e pediu silenciosamente por mais uma dose. O barman o olhou perplexo, mas não discutiu e encheu o copo de seu cliente.

“Esse whisky pode ser barato, mas é forte. É difícil tomar metade dessa garrafa sem cair.” Marcus sorriu com a informação.

“Depois da segunda, sua garganta anestesia.”

“Fossa? Hoje?” Outro sorriso, dessa vez interrompido por outra esvaziada do copo e uma veemente negação conjunta com o pedido para mais uma dose.

“Você já sentiu a sensação dessa bebida, Mr. Barman?” Ele perguntou mostrando o líquido em seu copo.

“Scott.”

Marcus repetiu o nome de seu interlocutor. “Scott. Hein? Já sentiu?”

“Prefiro uma boa cerveja nas noitadas.” Disse o rapaz honestamente. Na profissão, ele havia aprendido que uma boa maneira de ajudar os sujeitos que lá apareciam era bater um papo com eles. Evitava problemas futuros e ainda matava o tédio.

“Essa bebida marrom tem o poder de durante uma golada, fazer você sentir uma dor tão aguda que parece que estão rasgando sua garganta fora.”

“Cruzes. E por que você está bebendo isso hoje?”
Marcus deslocou seu olhar da bebida para Scott que possuía uma expressão confusa em seu rosto e sorriu.

“Simples. Por que essa dor foi a grande companheira durante todo esse ano... não seria hoje que eu a desprezaria, não é?”

“Boa justificativa.”

Scott riu do seu interlocutor. Ele parecia ter trinta anos e estava vestido casualmente, senão fosse o grosso sobretudo preto que o cobria. Tinha um senso de humor único em um lugar como aquele.

“Muitas pessoas simplesmente a esquecem. Vivem na merda o ano inteiro se entregando ao copo de bebida pra sentir uma dor física, mais fácil do que o sofrimento da realidade e quando chega dias como hoje, fingem estar tudo bem e felizes.” Marcus continuou. “B. B. King tirava desses momentos músicas como essa que estamos ouvindo... Eu aproveito pra beber e esquecer tudo o que se passou nesse ano. Aí,” Ele levantou o copo pondo-o a frente do campo de visão do barman. “quando eu terminar essa golada, tudo vai estar para trás como deve ser, e eu não vou precisar beber outro desse amanhã. Sabe por quê?” Scott balançou a cabeça em negativa. “Porque vou começar tudo do zero.”

“Tirando a ressaca.”

Marcus riu pela primeira vez naquele dia. “Ela vai ser só mais uma grande e sofrida lembrança daquilo que eu não quero repetir.”

O barman pegou um copo pequeno e entornou um pouco do líquido da garrafa nele. “Se todos seguissem a sua filosofia, as pessoas ficariam menos bêbadas.”

“E você, desempregado.”

“Por isso, resolvi brindar esse último copo com você: Ao amanhã.” Scott levantou o copo, seguido pela repetição do movimento vindo do homem a sua frente.

“Ao amanhã e ao B. B. King que difamou a vadia pro mundo inteiro em uma música.”

Os copos se bateram, provocando um som de aprovação, e logo foram levados a boca e entornados de maneira rápida e destrutiva. O barman reagiu como um dragão que cuspia fogo, enquanto os olhos se encheram de lágrimas e o nariz começou a arder. Marcus começou a rir, ao escutar os fogos explodindo no céu de Manhattan, e os gritos, comemorações e congratulações das pessoas que enchiam a rua principal próxima ao beco onde ficava o bar e ao Empire State Building. Após alguns minutos e o cessar da extensa chuva de fogos de artifícios, Marcus virou para o seu novo amigo e exclamou com um sorriso.

“Desce um copo de água agora junto com um Feliz Ano Novo.”

Scott riu mais uma vez da mudança provocada pelo simples avançar das horas para 2011, e após servir-lhe um copo de água respondeu.

“Feliz Ano Novo!”

4 comentários:

  1. Gostei bastante do conto, você escreve muito bem: Enquanto lia sua história me vi num bar esfumaçado em algum lugar de NY, com ar de tristeza e blues. Muito legal mesmo.

    Acho que você deveria praticar mais e lapidar mais seu talento.

    teh mais

    p.s.: Minha impressão ou o cara ia se matar depois do ano novo? (dedução)

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  2. Vc escreve muuuuuito bem ! quero a continuação !

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  3. Fica à interpretação... Rsrs

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E você? Concorda comigo?