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sábado, 29 de junho de 2013

Filhos do Éden - Anjos da Morte (Resenha)



  A roda do tempo nunca para e a cada dia o mundo se encontra mais perto do Juízo Final, com o tecido da realidade se adensando exponencialmente a casta dos Malakins acabaram incapazes de observar o curso da humanidade e se viram obrigados a recrutar um grupo de anjos para servirem como seus olhos e ouvidos na Terra. Os exilados, como eram chamados os celestes que haviam se afastado das guerras angélicas, agora se viam impelidos a participar das guerras mundanas, e foi assim que antes anjos pacíficos passaram-se a ser  chamados de Anjos da Morte.

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  Finalmente pude por as mãos em um exemplar do mais novo tomo escrito pelo surpreendente Eduardo Spohr e em questão de mais ou menos duas semanas terminei de ler. Acredito que poderia descrever esta obra em duas palavras: "profundamente rica".
  Há alguns meses o próprio Spohr comentou na minha resenha do "Filhos do Éden - Herdeiros de Atlântida" e em resposta eu havia dito que acreditava que "Anjos da Morte" teria uma atmosfera própria com relação aos títulos anteriores, só pra constar, não fui decepcionado.
   Bem, acho que já ta na hora de falar do livro em si, então vamos fazer o seguinte, preparem um suco, abram o pacote de seu biscoito preferido, senta e me sigam nessa viagem, ok?

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  "Filhos do Éden - Anjos da Morte" é o segundo da série FdE (um spin-off de A Batalha do Apocalipse) e como já era de se esperar, um livro bem mais sombrio que seu antecessor, o que não surpreende muito pois é um fenômeno natural em qualquer série, principalmente trilogias, mas não tome isso como um ponto fraco ou indicação de que seja um livro previsível, muito pelo contrário.
  Pra quem leu os outros livros do "Spohrverso" sabe muito bem que ele lança mão de bastante flashbacks, e  com razão, para poder detalhar mais a trama além de explorar o universo tão bem arquitetado da série, contudo isso por vezes se tornou  irritante no livro "A Batalha do Apocalipse", fazendo com que muitas pessoas até parassem de ler, pois além de interromper o andamento excitante que permeava a história no tempo atual também eram longos demais (embora eu tenha entendido a razão disso no fim das contas). Já em "Herdeiros de Atlântida" os flashbacks se mostraram mais curtos e cirúrgicos, narrando partes estritamente importantes para a trama, com isso o livro teve um andamento mais fácil de ser apreciado e diria até mais dinâmico, seu revés entretanto foi que perdeu aquela tão característica aula de história que Eduardo costuma nos dar em suas obras. E foi então que ele resolveu ousar nesse ultimo titulo, "Anjos da Morte" ao contrário dos outros não tem flashbacks curtos nem longos, ele é "o flashback".
  O livro volta no tempo contando a história de Denyel durante o século XX quando ele atua como um anjo da morte (que da nome ao titulo), membro de um esquadrão sob as ordens dos Malakins com a missão de se infiltrar nas batalhas humanas e observar seu curso sem interferir utilizando seus poderes angélicos. Ou seja, agora quem toma o foco principal da obra é o flashback e não o tempo presente, mas por que Eduardo escolheu esse caminho?
  Vamos começar nossa análise. Quem leu o primeiro tomo de FdE sabe muito bem que Denyel era um sujeito bem corrompido, cheio de vícios, um anti-herói clássico, e apesar do clichê - que um dos personagens do livro o acusa de ser - nós gostamos pacas dele, e pelo menos para mim ele lembra muito o Wolverine em vários aspectos, e como nosso velho amigo de garras afiadas também correu o risco de se tornar um personagem infértil, tudo isso porque um personagem não pode permanecer estático, unidimensional, ele deve mudar, evoluir com o passar do tempo e Denyel sendo um clichê abulante somado com o fato dele ser um anjo e portanto imutável tendo que seguir a natureza de sua casta podia acabar não rendendo mais o que ele rendeu em "Herdeiros de Atlântida", fazendo com que nós não o aceitássemos tão bem nos próximos livros, tornando-o tedioso, portanto o que o nosso anjo aqui precisava era de profundidade, e por mais que a casta o limitasse, o autor teria que dar um jeito de encontrar uma brecha, não seguindo a risca essa ideia de que anjos são estáticos, até porque se eles fossem todos iguais não precisariam de nomes. Logo a solução encontrada por Spohr para isso foi utilizar da técnica character-driven. Não sabe o que é? Deixa que eu explico.
  Character-driven é quando uma história que se caracteriza por uma narrativa orbitando os passos de um personagem, deixando ele determinar o ritmo, o que não significa que ela tenha de ser em primeira pessoa. Exemplificando: a saga Percy Jackson e os Olimpianos ela é toda em primeira pessoa, ou seja, o narrador é o próprio personagem, contudo a história não é feita em character-driven, pois o foco da história não é o Percy, mas sim as missões, sendo cada livro dos cinco uma missão diferente, ficou fácil de entender? Espero que sim, pois não vou explicar de novo! kkkk.
  Então prosseguindo, Denyel tem agora a chance de ganhar profundidade e não se tornar apenas mais um personagem superficial, e que melhor maneira de fazer isso do que mostrando toda a jornada que o levou a degradação, revelando cada passo em direção ao abismo sem volta capaz de até mesmo esmagar a vontade de viver de um anjo, cada morte que transformou um guerreiro em um assassino? Pois foi isso que ocorreu a Denyel. Obrigado a cumprir as ordens de seu arconte, Sólon - O Primeiro dos Sete Malakins - Denyel teve  de lutar em cada guerra humana, tendo tomado parte desde a terrível Batalha de Somme aos combates da segunda guerra mundial. O anjo até mesmo participou da grande invasão da Normandia, o conhecido Dia D, onde as tropas aliadas começaram a ofensiva que mudaria o curso da guerra. E é justamente nesse ponto que tenho de ressaltar o grande trabalho feito por Spohr, foi seu grande retorno ao estilo que ele mesmo intitulou de "fantasia histórica", o trabalho de pesquisa feito por ele para que pudesse criar uma ambientação envolvente e verídica foi sensacional, ele dá novamente uma aula de história, e continua assim por todo o livro, nos chamando atenção para o que foi verdadeiramente o século XX, desde as músicas aos fatos que mudaram o mundo, como a queda do muro de Berlim e a Guerra do Vietnã! De certo modo eu acho que poderia dizer que a degradação do mundo também servia como reflexo do próprio Denyel.
  Desenganado com as causas celestes e forçado a cometer atos completamente desonrosos na Terra, aos poucos ele foi perdendo a força de vontade, apenas seguindo as ordens, acreditando que ele sozinho não seria capaz de mudar nada, se não fosse ele, outro assumiria seu lugar na missão de cometer aqueles crimes, como simples peças em um tabuleiro. Esse caminho por vezes é sem volta, mas se a fé pode mover montanhas será que pode também mudar o destino de um anjo da morte? Quem leu Herdeiros de Atlântida já tem essa resposta, para o resto cabe a missão de descobrir. O que evidencia o cuidado que Eduardo teve para que novos leitores pudessem comprar esse livro sem ter de obrigatoriamente ler o anterior, isso mesmo, pouquíssimos spoilers, você pode começar tanto com um quanto com outro e em nada irá afetar a experiência que você terá ao ler a série.
  Agora falando um pouco dos vilões, e serei direto, este livro não tem nenhum antagonista especifico, o pior inimigo são as situações, a vida e seus mistérios, a história tenta mostrar justamente isso, que as vezes fica difícil de se determinar quem está certo e quem está errado, quem é o mal e quem é o bem, a resposta está sempre no seu coração, e você só pode decidir por você mesmo, porque sempre se te a escolha.
  Mas contudo o livro não gira entorno somente de Denyel, temos também Kaira, Urakin e Ismael - um novo personagem - no tempo presente engajados na missão de caçar um dos anjos mais poderosos já vistos, O Primeiro Anjo, lider dos sentinelas, uma figura que ainda não podemos afirmar ser do bem ou do mal, o problema é que Kaira acaba por se desviar um pouco da missão para procurar Denyel, que se encontra perdido em algum lugar do universo ou de outro. Não tenho muito a falar dessa parte da história porque ai eu comprometeria muita coisa, prefiro continuar sem dar spoilers, mas tudo que posso dizer que haverá algumas ligações entre essa parte e os capítulos que se focam em Denyel, principalmente com relação a mistérios, existem muitos deles, de certo que esse livro deixa muitas pontas soltas, inclusive me faz repensar a respeito de A Batalha do Apocalipse.
  Outro ponto forte - e já vou falar dos pontos negativos - foi as ótimas referências que o livro possui, a aventura toma pra si um pouco do espirito de "O resgate do soldado Ryan", e pude também perceber (como Nerd que sou) um tom de Wolfenstein (um dos primeiros games de tiro para pc) e as vezes fico na duvida se isso foi proposital ou Eduardo nem mesmo faz ideia dessas refêrencias, prefiro acreditar que sim, mas seguindo em frente, também gostei muito do aparecimento dos Elohins e dos Malakins, castas que ainda não havíamos visto entrarem em ação nos outros titulos, apesar de termos conhecimento prévio a respeito deles, ai é que entra outra boa referência, alguns que já leram o livro vão perceber ao ver o filme e vice e versa, estou falando do filme "Agentes do Destino" do diretor Nolan.
  Agora chegou a hora de falar um pouco do que achei fraco, o que é bem pouco, pra falar a verdade nem sei dizer se isso é realmente algo ruim, até porque vai de gosto pra gosto, mas vamos parar de enrolação, o que ia dizer é que não curti o fato do livro possuir poucas lutas realmente fantásticas, de espada e poderes mágicos, grande parte das lutas são tiroteios, eu sei que o livro se passa em guerras humanas e isso contribuiu para isso, mas sei lá, é doideira minha mesmo! kkkk. Outro ponto que achei negativo foi que achei que alguns personagens específicos que esperávamos ver sendo bem explorados nessa obra não foram, e estou me referindo ao anjo Mickail, amigo de Denyel, outro dos anjos da morte, mas creio que isso também tenha sido uma expectativa minha, caso vocês que leram também sentiram isso cometem ai embaixo ok?
  Bem, nossa resenha vai chegando ao fim, e espero que vocês não tenham comido o biscoito todo! kkkk Mas é isso ai, se gostarem cometem, curtam ou compartilhem. E se vocês ainda estão se perguntando se o livro vale a pena, vou dizer apenas duas coisas. Eduardo Spohr!!!!
  É claro que vale a pena! Poxa vida!

Um grande abraço pra vocês e até a próxima pessoal!!! E Eduardo, se estiver lendo isso, fique sabendo que estamos esperando pelo Paraíso Perdido!!!

- Lohan Nobre

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