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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

[BOOK TOUR] Reencontro - Leila Krüger


"Está bem no fundo. Não se pode alcançar... aos poucos, vai roubando o ar.” Ana Luiza vai perdendo seu fôlego: o fim de (mais) um grande amor, um pai distante, uma mãe fútil, uma amizade complexa e "pessoas que sempre vão embora". Com suas músicas de rock, seus livros e seus cigarros, Ana Luiza vê sua vida desmoronar. "O amor é uma ferida”, ela sentencia. Mas a “garota de olhar longínquo” tem um encontro inesperado com um alguém aparentemente muito diferente dela: os “olhos imensos”, que tudo veem...

Presa em seu próprio mundo e rendida ao álcool e às drogas, Ana Luiza tenta fugir. Principalmente do temido amor, que tanto a feriu... Como encontrar, ou reencontrar o próprio destino? Até onde o amor pode ir, até quando pode esperar? O que há além das baladas de rock e dos poemas românticos? Poderá o amor salvar alguém de sua própria escuridão? Às vezes, é necessário perder quase tudo para reencontrar... e finalmente poder amar.



"Quando você voltar
Sei que vou estar aqui pra te abraçar
Te dizer que o tempo quase não passou para nós,"


Como o título já traduz, a história vai tratar de reencontros. Porém não aquele mocinha e mocinho que se amam e voltam a se encontrar após anos (meio Diários de uma Paixão) e por aí vai não! São os vários tipos de reencontro, sendo que o mais importante e principal é um reencontro consigo mesmo. Com sua própria história, com sua própria vida, com seu amor-próprio. E esse, pra mim, foi o foco principal da narrativa da história de Ana Luiza.

A protagonista é uma jovem de 23 anos que estuda Odonto na PUC do Rio Grande do Sul e que além de uma vida sem percalços financeiros, possui uma enormidade de problemas. Vou listar alguns: O pai é frio como um iceberg e ausente e a mãe é uma religiosa carola e fútil, sua auto-estima é um lixo e seu coração já foi despedaçado por amores profundos que nunca trouxeram nenhum bem. Por isso, Ana se entrega ao rock e a alguns outros prazeres nada saudáveis: o cigarro, o álcool e as drogas.

Três outras personagens crescem e tem uma grande importância para a protagonista e para todo o desenrolar da trama. A primeira que vou falar sobre é a Tia Ella. A 'verdadeira mãe' de Ana, a governanta que a conhece como ninguém e que cuida dela como se fosse a figura materna real dela. Ela, sim, faz o papel de mãe. Eu a citei aqui mas pela simpatia que eu criei pela personagem. É amável demais... A outra personagem é a única amiga de Ana Luiza, Nana. A Curupira, apelido por conta de seus cabelos ruivos, tem um sorriso cativante, uma alegria contagiante e uma fé no amor e em Deus que contrasta com a descrença da melhor amiga. Tem muito trabalho como 'almofada para o coração' de Ana Luiza, mas o faz acreditando na força interior de quem chama de Nuvenzinha. Uma força que a amiga não descobriu e descrê da existência.

A terceira pessoa merece um parágrafo dele. Rafa. O garoto de olhos imensos. Ele é responsável pelos diálogos mais interessantes, importantes e filosóficos do livro. É com ele que Ana Luiza passa os seus melhores momentos e os piores. Novo aluno da PUC, músico e compositor, se aproxima da garota apesar de suas tentativas de afastá-lo. Tentativas essas que chegam a dar raiva, gente! Mas Rafa se mantém firme conquistando seu espaço como amigo e como amor no coração da protagonista que vive tentando se auto-sabotar de todas as formas possíveis. E encontra nesse rapaz um grande conforto, além de palavras de larga sabedoria sobre a vida, amor e fé.

Eu confesso que tive uma grande dificuldade no início apesar de curtir o estilo de escrita da autora. Amo essa tendência meio dark e psicológica que se imprime a cada capítulo e a cada parágrafo. Passamos a conhecer os personagens de maneira única e isso me atrai muito num livro. O modo como os diálogos se desenvolvem e como os assuntos são costurados e construídos a partir de rock e citações de diversos autores clássicos da nossa literatura nacional como Cecília Meirelles e Clarice Lispector é primoroso. Contudo, eu achei o livro grande demais. A dificuldade apareceu justamente por conta de um excesso em algumas partes, o que tornou o livro cansativo em alguns momentos. Entendo que não é possível um livro sem partes mais vagarosas (embora Jogos Vorazes, Inimigo Brutal e a Série Mortal como um todo, os dois primeiros já resenhados aqui levem o ritmo de modo alucinante), mas alguns momentos me deram a sensação que poderiam ter sido encurtados. Vale ressaltar que a linguagem do livro é toda em 'gaúchez', algo que - para cariocas como eu - é surreal. O uso do 'tu' e da conjugação em segunda pessoa numa conversa informal é tenso, porém a autora é gaúcha e o utiliza com segurança. Foi um comentário regionalista apenas... rs

A leitura te leva a reflexão a respeito da vida e do modo como a entendemos e cuidamos dela. Ana Luiza é muito auto-destrutiva, porém os eventos são moldados a nos levar a compreender motivações e, ao mesmo tempo, questioná-las. Será que acabamos não pensando daquela forma? Ou nos justificamos erroneamente da mesma maneira? Leila Krüeger dá um show nesse sentido.

Recomendo e dou apoio aos escritores nacionais! Tem muito livro bom de nossa terra e Reencontro é um desses de qualidade brasileira.

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