Quando você lê
um livro ou saga, você cria um mundo de acordo com sua imaginação e com as
descrições que a autora ou autor colocou na história. Geralmente é mais
detalhado e tem muito do aspecto interno de cada personagem. Você sabe o que
eles pensam e sentem quando agem ou reagem à determinada situação ou momento.
Por isso tudo, compreendo perfeitamente a decepção que ocorre quando essas
histórias que nos comoveram tanto são passadas para a tela grande. É um super
desafio você conseguir transformar perfeitamente 300 páginas (para dizer um
mínimo considerável) em um rolo de 2 ou no máximo estourando 3 horas. As
perdas, supressões e modificações são parte do processo desde que se busque manter a essência e que se conte a
história com início, meio e fim.
E
é exatamente isso que a adaptação cinematográfica de Jogos Vorazes tem
conseguido fazer com genialidade. Eles
estão mostrando que é possível, sim, adaptar uma saga e manter sua história
apesar de cortes e mudanças. Acabei de chegar do cinema onde fui assistir The Mockingjay part 1 – título original
– e tudo o que grita dentro de mim é que todos os produtores, diretores,
roteiristas entre outros deveriam sentar e assistir como aula de como se fazer
adaptações literárias para a Sétima Arte. Porque o trabalho foi impecável!
SOBRE
A HISTÓRIA: A curiosidade de quem não leu os livros (marido, por exemplo) era
de como eles iriam continuar a história que tinha por foco nos outros filmes o
fator dos jogos. Como mudar a storyline para abarcar agora a revolução que se iniciou
em toda a Panem? Primeira sacada genial foi a introdução dos elementos das
revoltas e rebeliões ainda no segundo filme “Em Chamas”. Algo que só foi visto
pelos leitores no terceiro livro por estarmos acompanhando o ponto de vista da
Katniss. Segunda sacada genial: Ninguém mexeu na personalidade dos personagens.
Peeta, Katniss, Finnick, Haymitch, Presidente Snow ou Coin. Todos eles estão
completos em essência e estão se desenvolvendo sem perder nada para a telona.
Terceira sacada genial: Não americanizaram os pontos de vistas do livro. A aula
de sociologia e política está lá.
SOBRE
OS ATORES: Jennifer Lawrence merece todos os Oscars sempre. Ela está cada dia
mais lapidada em suas interpretações. Aquela louca (convenhamos, ela é muito
piradinha nas entrevistas o que é algo que eu amo na Jen. Ela não é um
produto.) sabe se transformar na sua personagem facilmente e passa verdade em
suas atuações. A cena da Katniss se esforçando a fazer uma propaganda e depois
a sua versão autêntica é uma das provas do quanto o trabalho de Lawrence está
se aperfeiçoando. Mas não posso esquecer a Julianne Moore que só pra variar
estava uma Alma Coin irrepreensível. Os olhos frios tão mencionados no livro
estavam lá o tempo todo. Donald Sutherland, papai do Jack Bauer, figura já
conhecida em tantos filmes vistos por mim e por todos (Orgulho e Preconceito, Pilares
da Terra, pra dizer alguns) ficou irrefutável como Presidente Snow. Josh
Hutcherson e Liam Hemsworth também não ficam atrás. E foi emocionante assistir
o talento que perdemos de Phillip Seymor Hoffman como Plutarch Heavensbee.
Para encerrar,
os efeitos, a maquiagem e a direção de arte também deram um show à parte. Não é
o tipo de filme que ganhará qualquer menção da Academia, mas que além de um bom
entretenimento para uma noite de feriadão, nos leva a refletir sobre o valor
das ideologias e das revoluções. Precisamos lutar pelo que julgamos ser bom
para nós, politicamente falando, mas precisamos saber que tudo tem um preço e
um lado negativo. Nisso, Jogos Vorazes faz um trabalho brilhante. Acende a chama revolucionária do plano das
ideias, porém mostra o pessimismo da realidade.